Eu discutia com a repórter e a editora-chefe qual a melhor forma de dar um dado no off da matéria sobre o Forum Social Mundial quando ouvi uma explosão. A primeira reação de todos foi pensar em outra bomba no banheiro. algo, no entanto, não me parecia certo, já ouvira aquele ruido antes, o sabia. Foi neste momento que Bjorn, meu cunhado, irrompeu a passos largos envolto por uma longa capa de penas brancas. A estagiária deu um grito. Para a surpresa de todos, inclusive a minha, Bjorn curvou-se a minha frente dizendo, Lorde K., os Reinos estão novamente em guerra e precisamos do senhor.
Os Reinos estão em guerra novamente. ... Aquilo me doeu na alma, por mais que eu saiba que dizer isto seja um cliché horroroso. Foi então que lembrei de onde conhecia o estrondo que ouvira antes, de Antúpfias. Aquele era o barulho do meu honrado general e fiel montaria Falcor. Não que este fosse seu verdadeiro nome, apenas um que dei em honra a um livro que li na juventude, nunca consegui pronunciar uma palavra na língua oficial dos dragões, nem mesmo o nome de um dos meus melhores amigos. E foi seu rosto escamado cor de pérola que vi entrando pela janela para me cumprimentar. E foi a presença dele que me indicou a gravidade da situação em Antúpfia, afinal, ele nunca se havia aventurado pela terra em sua forma plenamente física.
Levantei, olhei Bjorn direto no olho - o que ainda significava olhar para cima - e indaguei-lhe se havia trazido meus trajes de combate. Ele sorriu, assoviou, entraram dois guerreiros, os irmãos Locian e Lutruan carregando o baú entelhado que há tanto tempo eu não abria. Tirei os sapatos e calcei as botas. Coloquei as luvas de couro e as de metal por cima. Os irmão vestiram-me o peitoril alado e me alcançaram espada, adaga e escudo. Quando estava preparado para combate, abri as asas das costas, as dos pés e as do capacete, brandi minha grande lâmina dourada e voei para fora da redação como se tudo já estivesse explicado. Montei sobre a cabeça de Falcor e ele me conduziu em segundos para a serra cobertas de hortências nos arredores da cidade de Gramado. Bom, nós as chamamos de hortências, essas pequenas maravilhas mágicas, mas do outro lado do Portal, são conhecidas como antúpfias. São elas que permitem que se transite entre um mundo e outro. Sem as flores, nada do que estou escrevendo neste diário seria possível.