Wednesday, October 23, 2002

Acabou o almoço, ou janta, sei lá, nossa refeição. Pelo qua andamos conversando, ainda vai levar alguns dias para vermos o lado de fora da montanha de novo. Espero que os dragões estejam bem, ele precisaram voar para longe com o ataque dos demônios sombra e, ao que parece vamos ficar um mês ou mais separados.
Que dia é hoje? Me sinto como se fossem meses desde a última vez que vi a luz do sol. Luz elétrica, meu computador, dois hambúrgueres alface queijo e molho especial, até o pessoal da redação, tudo me faz falta agora. Estamos há sabe-se lá quanto tempo comendo raízes e cavando um túnel atraves da Montanha do Passo da Morte até chegar aos pavilhões das minas. Finalmente consegui acender uma vela, comer algo que foi assado e escrever um pouco. As pessoas em geral não têm idéia de como táticas de guerrilha podem ser monótonas. As únicas sensações que pudemos experimentar nestes últimos dias foram desconforto, frio e medo. Ainda lembro do rosto retorcido de Fyior guinchando a poucos metros de mim. O pior é que sei que aquilo foi apenas a primeira batalha perdida. A derrota tem um sabor de catarro. Ninguém pensou duas vezes sobre quando chegamos dizimando os krillons arqueiros, mas todos comentam a perda de nosso primeiro homem. Mesmo assim prefiro isto a sentar em uma coletiva com o secretário da fazenda. Deus, eu devo mesmo ter alma de guerreiro ou algo parecido, a morte me parece muito mais matéria de poesia do que, bem, do que o orçamento anual. Talvez aqui eu me lembre do fascínio que os schwartzeneggers exercem na psiché geral do meu distante reino dos humanos, tão envolvidos em seus afazeres e seu efeito estufa e sua macroeconomia que nem percebem que o universo todo está ligado por portais muito mais simples do que nos damos por conta. A terra está tão longe, e ainda assim, tão perto.

Monday, October 21, 2002

Escalamos a Montanha do Passo da Morte. Como pode-se imaginar pelo nome, estou exausto. Não dá para voar por ali e precisamos ficar o máximo em silêncio até encontrarmos esta caverna. Depois da emboscada de ontem, resolvemos chamar menos atenção. Ainda me preocupo com o destino da rainha, mas minha própria segurança é, no momento, mais premente.
Fomos acordados no meio de uma emboscada. Não sei como, mas um grupo de oito demônios sombra parece ter-nos achado. As lâminas negras deles são difícei de ver, ainda mais com a pouco luz da madrugada e foi preciso que incendiássemos ao máximo nossas espadas para que pudéssemos derrotá-los. Perdemos apenas um homem, Fyior, mas sua falta será sentida para sempre. Escrevi esta carta para a família dele,

"Fyior está morto. Morreu como viveu, um nobre guerreiro com uma veloz espada. Foi a primeira linha de defesa quando os Demônios Sombra apareceram em emboscada na tenebrosa madrugada de hoje. Sei que a falta que ele fará ao Reino em nada se compara com aquela que fará a você, cara Sienne, ou aos seus filhos. Sei que em seu coração nobre, vocês continuam juntos assim como sei que seu espírito a visitará no Dia dos Mortos. Saiba que ele se foi salvando a vida de seu Príncipe e que seu sacrifício será lembrado quando esta maldita guerra acabar com a nossa vitória. Humildemente, Principe K."

Sei que nem tudo o que está nela é verdade, mas a viúva não precisa saber que fomos alertados pelos gritos de Fyior ao ser trespassado por uma lâmina negra em seu sono. De certa forma, sua morte acabou mesmo salvando a todos.
Despertei com trovões. Buscamos abrigo junto à umas cavernas, guiados pelo Guará, o lobo mensageiro. Ele explicou a situação da fuga da rainha e precisamos ajustar nossos planos de batalha. Depois do almoço, um pequeno grupo, onde me incluí por razões bem evidentes, pôs-se a voar em busca de algum sinal da minha amada esposa. O sol caiu sem uma sombra de alento extra. Ao menos sei que ela está viva.

Sunday, October 20, 2002

Acordei com os passos cautelosos de um pequeno lobo. Com a mão fechada sobre a empunhadura de minha espada, acompanhei seus passos desviando de nossas armadilhas. Quando estava a poucos centímetros do alcance de minha lâmina, sussurou, Sua Majestade a rainha conseguiu escapar, achei que o senhor gostaria de saber disto meu Lorde, agora volte a dormir, os lobos estão do vosso lado, eu guardarei vosso sono até que sol comece a aquecer o orvalho.